domingo, fevereiro 25, 2007

Lembrando Galileu

Há exatos 391 anos atrás, em 25/02/1616, o Vaticano declarou como heresia dizer que a Terra gira em torno do Sol e exortou Galileu a abandonar a defesa do heliocentrismo sob ameaça de ser excomungado e executado como herege.

Apenas em 03 de Julho de 1981 a Igreja Católica instituiu uma «Comissão pontifícia para o estudo da controvérsia ptolemaico-copernicana dos séculos XVI e XVII», para investigar e esclarecer se era ou não heresia declarar o a Terra gira em torno do Sol e se Galileu era um herege.

Assim, depois de muitos debates que duraram 11 anos, no dia 31/10/1992 o então Papa João Paulo II «reabilita» oficialmente Galileu e refuta a idéia de que a Terra não é o centro do Universo e nem o Sol gira em torno da Terra. - Desta forma a Igreja após cerca de 376 anos ´´muda de idéia´´.

Sempre fico pensando se será possível que no futuro a Igreja mude de posição a respeito de temas muito debalados por ela como casamento gay, aborto, fim do celibato e etc? Ou bem estas mudança acarretariam o fim do catolicismo?

De toda maneira o que é realmente preocupante que se bem nesta questão ´´de quem gira em torno de quem ´´ nada de substancial foi gerado de dano para a sociedade, porém, o que dizer de certos posicionamentos contra o uso de camisinha e o planejamento familiar? Ou ainda contra a pesquisa do uso de embriões e outros tantos avanços científicos ?

sábado, fevereiro 17, 2007

Pessoas vêem Deus como robô

Pessoas vêem Deus como robô, diz estudo. Psicólogos de Harvard analisaram como vemos a “mente” do outro. Deus foi visto como uma entidade com muita moralidade, mas pouca sensibilidade.

Fonte : G1.com.br


A maneira como percebemos a “mente” do outro é fundamental para diversos aspectos da sociedade, desde a legislação até a medicina. Um estudo de psicologia feito na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, mostrou que essa percepção é muito mais complexa do que parece e se divide em dois eixos: a relação da mente com o interior e sua relação com o exterior. Enquanto um bebê é visto como alguém com grande sensibilidade interna, Deus, por outro lado, é percebido como uma entidade mais externa.

“Toda as relações em nossa sociedade dependem da maneira como percebemos ‘o outro’, desde um cão até Deus, passando por um bebê, uma pessoa em estado vegetativo ou os mortos”, explicou ao G1 a co-autora do estudo, Heather Gray. Segundo ela, “mente” nesse caso não é apenas o cérebro, mas todo um conjunto de coisas que envolve desde a alma até a personalidade. “É o todo o ser”, afirma.

Em seu estudo, Gray e seus colegas estudaram as respostas de 2040 pessoas a um questionário. Os respondentes tiveram que avaliar 13 personagens (um bebê, um chimpanzé, uma mulher morta, um cão, um feto, um sapo, uma menina, Deus, um homem adulto, um homem em estado vegetativo persistente, um robô, uma mulher adulta e eles mesmos) em relação a 18 diferentes tipos de capacidades mentais (como a capacidade de sentir dor ou o auto-controle). Eles também tiveram que passar seis julgamentos pessoais, ao responder, por exemplo, qual dos personagens mais os agradavam.

O estudo trouxe uma série de resultados interessantes, que foram publicados na revista “Science” desta semana. Os pesquisadores dividiram as capacidades mentais avaliadas em duas dimensões: a interior e a exterior. “A mente interior, que batizamos de ‘experiência’, é como o indivíduo se relaciona consigo mesmo. Ele é capaz de sentir fome? De se sentir envergonhado? De sentir alegria ou raiva?”, explica Gray. “Já a mente exterior nós chamamos de ‘agência’. É como o indivíduo se relaciona com o mundo. Ele tem moralidade? Tem auto-controle? Faz planos?"

Com essa definição, os cientistas descobriram que um robô, por exemplo, é percebido como algo que possui uma mente exterior, por ser capaz de se relacionar com o mundo, mas não uma interior, porque não “sente”. Só um dos demais personagens o supera nessa característica: Deus.

A própria psicóloga admite que o resultado é curioso, principalmente porque a grande maioria dos participantes se declarou religiosa. Boa parte, muito religiosa. “Os participantes viam Deus como alguém com bastante moralidade e pensamento, mas não como alguém capaz de sentir alguma coisa, como dor ou alegria”, explica Gray. “Em geral, quem responde o questionário tende a se colocar no lugar dos personagens. Acho que eles tiveram dificuldade de se colocar no lugar de Deus”.

A fé se expressou em outros momentos do questionário. A mulher morta recebeu alguns -- poucos, mas consideráveis -- pontos tanto na escala de mente interior como na de mente exterior. Para Gray isso mostra uma crença na vida após a morte. Da mesma maneira, o paciente em estado vegetativo recebeu bastante pontos na dimensão interior. “As pessoas não conseguiam desistir dele, mesmo depois de termos explicado que esse personagem não era capaz de fazer absolutamente nada”, afirma a cientista.

Para ela, os resultados são importantes porque mostram um padrão de comportamento humano. Com base nas opiniões sobre mente interior e exterior, os pesquisadores conseguiram prever com bastante precisão as decisões do grupo em uma parte posterior da pesquisa, que perguntava como o respondente se relacionaria com cada personagem. “Fizemos perguntas como: se um chimpanzé e uma menina matassem alguém, qual deles você acha que mereceria mais punição? Se você fosse forçado a machucar um homem em estado vegetativo ou um cachorro, qual deles faria você se sentir mais culpado?”, explica.

Segundo o estudo, a mente exterior está mais ligada na nossa percepção à responsabilidade. Por outro lado, a mente interior está ligada a direitos e privilégios. “O comportamento moral humano não depende de um só fator. Pelo menos duas dimensões opostas trabalham em conjunto”, diz Gray.


Diferenças

O grupo reunido pela equipe de Heather Gray era bastante diverso, com homens e mulheres de diferentes idades, históricos e crenças. Ainda assim, as respostas de todos foram bastante uniformes.


Não vimos diferenças entre homens e mulheres e entre pessoas mais jovens e mais velhas. Quando vimos as respostas sobre o cão, por exemplo, dividimos os resultados entre os que já tinham tido um cachorro na vida e os que nunca tiveram, e os resultados dos dois grupos foram semelhantes”, explica a psicóloga.

A única divisão que apresentou alguma diferença foi política e sobre um ponto bastante polêmico. Ao dividir os respondentes entre eleitores dos dois maiores partidos dos Estados Unidos, o Republicano (conservador) e o Democrata (liberal), os pesquisadores descobriram diferenças entre o modo com que cada grupo via um feto. “Os republicanos em geral tendem a dar qualidades humanas ao feto, os democratas não”, afirma Gray.

sábado, fevereiro 03, 2007

A Ciência é uma Religião?

Is Science a Religion? – A Ciência é uma Religião?
Fonte : http://www.thehumanist.org/humanist/articles/dawkins.html

por Richard Dawkins

A Humanist of the Year de 1996 fez esta pergunta em um discurso aceitando a honra da Associação Humanista Americana

É moda descrever como "apocalípticas" as ameaças à humanidade apresentadas pelo vírus da AIDS, doença da vaca louca, e muitas outras, mas eu acho que um caso pode ser feito de que a fé é um dos maiores males do mundo, comparável à varíola, mas mais difícil de extirpar.

A fé, sendo uma crença que não é baseada em evidência, é o principal vício de qualquer religião. E quem, olhando para o Noroeste da Irlanda ou o oriente médio, pode ter certeza que o vírus cerebral da fé não é excessivamente perigoso? Uma das histórias contadas para os jovens homens-bombas suicidas muçulmanos é que se tornar um mártir é o caminho mais rápido para o paraíso - e não apenas um paraíso comum, mas uma parte especial do paraíso onde eles receberão sua recompensa especial de 72 noivas virgens. Isso parece para mim que nossa melhor esperança seria prover um tipo de "arma de controle espiritual": mandar um teólogo treinado especialmente para diminuir a taxa de virgens.

Dados os perigos da fé - e considerando as realizações da razão e observação na atividade chamada ciência - eu acho irônico isso, pois, não importa quando eu dou palestras públicas, parece que sempre há alguém adiante que diz, "É claro, sua ciência é apenas uma religião como a nossa. Essencialmente, ciência acaba partindo para a fé, não é?”.

Bem, ciência não é religião e ela não acaba partindo para a fé. Embora possua muitas das virtudes da religião, não possui nenhum de seus vícios. Ciência é baseada na verificação de evidências. A fé religiosa não apenas carece de evidências, mas sua independência de evidências é seu orgulho e alegria, gritadas do topo dos telhados. Por qual outro motivo os cristãos fugiriam de criticar e duvidar de Tomé? Os outros apóstolos são apresentados para nós como exemplos de virtude porque a fé deles era o bastante para eles. Duvidar de Thomas, por outro lado, requer evidências. Talvez ele deveria ser o Santo Padroeiro dos Cientistas.

Uma razão pela qual eu recebi o comentário sobre a ciência ser uma religião é porque eu acredito no fato da evolução. E ainda acredito nisso com uma grande convicção. Para alguns, isso pode superficialmente parecer fé. Mas a evidência que me faz acreditar na evolução não é apenas preponderantemente forte; ela é claramente disponível para qualquer um que se dê ao trabalho de ler sobre ela. Qualquer um pode estudar a mesma evidência que eu estudei e aparentemente chegar à mesma conclusão. Mas se você tem uma crença que é baseada somente na fé, eu não posso examinar as tuas razões. Você pode se recuar atrás da parede privada da fé, onde eu não posso lhe alcançar.

Agora na prática, é claro, cientistas individuais ás vezes deslizam para o vício da fé, e poucos podem acreditar assim tão cegamente em uma teoria favoreçam que eles ocasionalmente falsificam evidências. No entanto, o fato de que ás vezes isto acontece não altera o princípio de que, quando eles fazem isso, eles fazem isso com vergonha e não com orgulho. O método da ciência é tão bem definido que eles normalmente são desmascarados no final.


A ciência é na verdade uma das disciplinas mais morais, mais honestas - porque a ciência iria completamente entrar em colapso se não fosse por uma aderência escrupulosa à honestidade em registrar evidências. (Como James Rhandi apontou, essa é uma das razões pela qual os cientistas são enganados freqüentemente por charlatães paranormais e pela qual o papel de reveladores da verdade é mais bem interpretado por mágicos profissionais; cientistas apenas não percebem tal deliberada desonestidade.) Há outras profissões (não é necessário mencionar os advogados, especificamente) na qual falsificação de evidências ou ao menos contorcendo-as é precisamente o motivo pelo qual estas pessoas são pagas e ainda ganham pontos fazê-lo.

A ciência, então, é livre do principal vício da religião, a fé. Porém, como citei, a ciência possui algumas das virtudes religiosas. A religião pode aspirar a prover seus seguidores de vários benefícios - com sua explicação, consolação e grandeza. A ciência, também, tem algo a oferecer nessas áreas.

Os seres humanos possuem fome de explicação. Pode ser uma das principais razões pela qual a humanidade universalmente possui uma religião, desde religiões para inspirar e para prover explicações. Nós percebemos em nossa consciência individual um universo misterioso e queremos entendê-lo. A maioria das religiões oferece cosmologia e biologia, uma teoria da vida, uma teoria das origens, e razões para a existência. Fazendo isso, eles demonstram que religião é, de um modo, ciência; apenas uma ciência ruim. Não acredite no argumento que religião e ciências operam em dimensões separadas e estão preocupadas com diversas questões diferentes. As religiões têm sempre tentado ao longo da história responder as questões que pertencem propriamente à ciência. Deste modo, as religiões não devem se distanciar muito do terreno no qual eles escolheram, tradicionalmente, lutar. De fato eles oferecem cosmologia e biologia; porém, em ambos os casos é falso.


Consolação é mais difícil para a ciência prover. Diferente da religião, a ciência não pode oferecer a chance gloriosa de se reunir com os entes queridos no além. Os que foram injustiçados na terra não podem, na visão científica, receber uma boa recompensa pelos seus sofrimentos em uma próxima vida. Seria argumentado que, se a idéia de uma vida após a morte é uma ilusão (e eu acredito que seja), a consolação oferecida é furada. Mas ela não é assim necessariamente; uma crença falsa pode ser tão confortante como uma verdadeira, provendo que o crédulo jamais descubra que é falsa. Mas se a consolação vem tão fácil, a ciência pode ser pesada com outros paliativos, como drogas para acabar com a dor, do qual o conforto pode ser ou não ilusório, mas elas funcionam.

Grandeza, no entanto, é onde a ciência se sente em casa. Todas as grandes religiões possuem um lugar a temer, pelo transporte extático das maravilhas e belezas da criação. E é exatamente este sentido de arrepio na espinha, perda do fôlego – quase de veneração – dessa inundação do peito de maravilha e extática, que a ciência moderna pode prover. E faz muito além do que os sonhos mais loucos dos santos e místicos. O fato de que o sobrenatural não tem lugar nas nossas explicações, na nossa grande compreensão sobre o universo e a vida, não diminui a grandeza. Muito pelo contrário. Um simples olhar por um microscópio para o cérebro de uma formiga ou por um telescópio a uma galáxia antiga de bilhões de mundos é o bastante para reverter os limitados e paroquiais salmos de louvor.

Agora, como eu dizia, quando dizem para mim que a ciência ou outra parte em particular da ciência, como a teoria da evolução, é apenas uma religião como qualquer outra, eu geralmente nego isso com indignação. Mas eu comecei a perguntar será que esta é a tática errada. Talvez a tática certa seria aceitar o fardo com gratidão e exigir tempos iguais para o ensino de ciências e religião nas aulas. E quanto mais eu penso nisso, mais eu percebo que um caso excelente poderia ser feito disto. Então eu quero falar um pouco sobre educação religiosa e o papel que a ciência ocupa nela.

Eu percebo fortemente o modo como as crianças são induzidas. Não sou inteiramente familiarizado com o modo em como as coisas são nos Estados Unidos, e o que digo pode ter mais relevância para o Reino Unido, onde há uma obrigação-estadual, forçando legalmente instrução religiosa nas escolas. Isto é inconstitucional nos Estados Unidos, mas eu presumo que as crianças, todavia, recebem instrução religiosa em qualquer religião em particular que os pais deles consideram adequada.

Isto me lembra da minha opinião sobre abuso mental infantil. Em 1995, uma edição da revista Independent, uma das revistas líderes de Londres, havia uma fotografia de uma cena meiga e emocionante. Era véspera de natal, e a foto mostrava três crianças vestidas como os três reis magos para uma peça de natal. A história que a acompanhava, descrevia uma das crianças como muçulmana, uma como hindu e a outra como cristã. O suposto sentido meigo e emocionante da história foi que todos eles estavam participando desta peça de natal.

O que não é meigo e emocionante é que estas crianças tinham quatro anos de idade. Como você pode descrever uma criança de quatro anos como um muçulmano ou cristão ou hindu ou judeu? Você falaria sobre um economista monetarista de quatro anos de idade? Você falaria sobre um neo-separatista de quatro anos ou um republicano liberal de quatro anos? Há opiniões sobre o cosmos e o mundo que as crianças, assim que crescerem, vão presumidamente encontrar uma posição para se avaliar. A religião é o único campo da nossa cultura que é absolutamente aceitado, sem questionamento – sem ao menos notar o quão bizarra ela é – que os pais tem uma visão total e absoluta sobre o que as crianças vão ser, como os seus filhos vão ser criados, qual opinião seus filhos terão sobre o cosmos, sobre a vida, sobre a existência. Você vê o que quero dizer como abuso mental infantil?

Olhando agora para as várias coisas que a educação religiosa espera-se efetuar, um de seus objetivos é encorajar as crianças a refletir sobre as profundas questões da existência, convidá-los a crescer junto às insípidas preocupações da vida ordinária e pensar sob specie aeternitatis.

A ciência pode oferecer uma visão da vida e do universo que, como eu já adverti, para abater as inspirações poéticas, separam de modo desapontador e mutualmente contrário à fé, as recentes tradições das religiões do mundo.


Por exemplo, como pode uma criança nas aulas de educação religiosa reprovar ao imaginar se poderíamos, por outro lado, insinuar a idade do universo? Suponhamos que, no momento da morte de Cristo, a notícia de sua morte tenha começado a viajar na maior velocidade possível sobre o universo fora da terra. O quão longe as terríveis notícias teriam viajado até agora? De acordo com a teoria da relatividade espacial, a resposta é que as notícias não poderiam, sob quaisquer circunstâncias, ter alcançado mais que um cinqüenta avos (1/50) do caminho através da galáxia – nem um milésimo do caminho para a nossa galáxia vizinha mais perto nas 100 milhões de galáxias enormes no universo. O universo em seu tamanho não poderia possivelmente ser qualquer outra coisa a não ser indiferente à Cristo, seu nascimento, seu desejo, e sua morte. Nem mesmo tais notícias momentâneas, como a origem da vida na terra, poderia ter viajado apenas através do nosso pequeno grupo de galáxias. Ainda, este evento é tão antigo na nossa escala temporal terráquea que, se você medir sua idade com os braços abertos, toda a história humana, toda a cultura humana, cairia como poeira da ponta do seu dedo com uma simples pancada de uma lixa de unha.

O argumento do projeto, uma parte importante da história da religião, não seria ignorada nas minhas aulas de educação religiosa, é desnecessário dizer isso. As crianças olhariam para as maravilhas encantadoras do reino dos seres vivos e levariam em conta o Darwinismo junto às alternativas criacionistas e fariam suas opiniões. Penso que as crianças não teriam dificuldade em formar suas opiniões do modo certo se apresentadas as evidências. O que me preocupa não é a questão do tempo ser igual mas, de acordo com o que vejo, as crianças no Reino Unido e dos Estados Unidos não tem essencialmente nenhum tempo com o evolucionismo e ainda assim são ensinadas sobre o criacionismo (seja na escola, igreja ou em casa).


Eu também estaria interessado em ensinar mais do que uma teoria da criação. O fator dominante nessa cultura é o mito da criação Judaica, que é feita exatamente sobre o mito da criação da Babilônia. Há também, é claro, muitos e muitos outros, e talvez todos eles deveriam ter tempos iguais (exceto que não teria muito tempo para estudar qualquer outra coisa). Eu entendo que há Hindus que acreditam que o mundo foi criado em uma desnatadeira de manteiga cósmica e os Nigerianos acreditam que o mundo foi criado por deus dos excrementos das formigas. Obviamente estas estórias têm o mesmo direito de ter tempos iguais tanto quanto o mito Judeu-Cristão de Adão e Eva.

Chega de Gênesis; vamos para os profetas agora. O Cometa Halley irá retornar sem errar no ano de 2062. Bíblia ou Delphica, as profecias não começam a esperar tal precisão; astrólogos e Nostradâmicos não ousam se comprometer com as profecias factuais porém, ao invés disso, disfarçam seu charlatanismo em uma névoa de incertezas. Quando os cometas apareceram no passado, eles freqüentemente foram interpretados como portadores dos desastres. A astrologia tem exercido um papel importante nas várias tradições religiosas, incluindo o Hinduismo. Os três reis magos que eu mencionei antes, dizem que foram guiados para o berço de Jesus por uma estrela. Nós podemos perguntas às crianças por qual rota física eles imaginam que o pressuposto estelar influente nos relacionamentos humanos possa viajar.


Incidentalmente, houve um programa chocante na radio da BBC na época do natal em 1995 apresentando uma astrônoma, um bispo e um jornalista que foi enviado em uma tarefa para rastrear os passos dos três reis magos. Bem, você poderia entender a participação do bispo e do jornalista (que era um escritor religioso), mas o astrônomo era uma respeitada escritora de astronomia, e ainda assim ela foi em frente! Durante todo o programa, ela falou sobre os presságios de quanto Saturno e Júpiter estavam ascendentes acima de Urano ou o que quer que seja. Ela não acreditava em astrologia na verdade, mas um dos problemas de nossa cultura é que foi ensinado a se tornar tolerante à ela, vagamente entretidos por ela – tanto que até mesmo pessoas científicas que não acreditam em astrologia chegam a pensar que ela seja uma diversão inofensiva. Eu levo a astrologia muito a sério, inclusive: eu penso que é profundamente prejudicial porque ela mina a razão, e eu gostaria de ver campanhas contra ela.

Quando as aulas de educação religiosa se tornar ética, eu não penso que a ciência em muito a dizer, e eu a substituiria por aula de filosofia racional moral. As crianças pensam que existem padrões para o certo e o errado? E se pensarem, de onde eles vêm? Você pode construir princípios de certo e errado que dão certo, como “faça o que quer que façam com você” e “o maior bem para o maior número” (o que quer que isso signifique)? É uma pergunta recompensadora, qualquer que seja sua moral pessoal, perguntar a um evolucionista de onde a moral vem; de que modo o cérebro humano adquiriu a tendência a ter ética e moral, o sentimento de certo e errado?


Nós deveríamos valorizar a vida humana acima de todas as outras vidas? Há uma parede rígida a ser construída ao redor das espécies Homo sapiens, ou deveríamos discutir se há outras espécies que são nomeadas para nossas afinidades humanas? Nós deveríamos, por exemplo, seguir o lobby do direito de viver, que é totalmente preocupado com a vida humana, e valorizar a vida de um feto humano com a eficiência de um verme acima da vida de um chimpanzé que pensa e que sente? Qual é a base dessa cerca que nós erguemos ao redor do Homo sapiens – mesmo por um pequeno pedaço de tecido fetal? (não soa como uma idéia evolucionista quando você pensa sobre isso.) Quando, em nossa descendência evolucionária do nosso ancestral comum com os chimpanzés, esta cerca se ergueu sozinha?

Bem, continuando, então, da moral pra o final, para a escatologia, nós sabemos pela segunda lei da termodinâmica que toda a complexidade, toda a vida, todas a alegria, todo o sofrimento, é inferno dobrado ao se comparar com um fim frio e sem valor. Eles – e nós – jamais poderemos ser mais do que temporários, apostas locais do grande deslizamento universal para o abismo da uniformidade.

Nós sabemos que o universo está se expandindo e que provavelmente se expandirá sempre, embora é possível que ele possa se contrair novamente. Nós sabemos que, não importa o que aconteça com o universo, o sol engolirá a Terra em aproximadamente 60 milhões de séculos.


O tempo em si já começou em um certo momento, e o tempo pode terminar em um certo momento – ou pode ser que não. O tempo pode vir a um fim localizado em pequenas implosões chamadas buracos negros. As leis do universo parecem ser verdadeiras para todo o universo. Por que é assim? Pode ser que as leis mudem nessas implosões? Para ser realmente especulativo, o tempo poderia começar novamente com novas leis da física, novas constantes físicas. E ainda tem sido sugerido que poderiam existir vários universos, cada um isolado tão completamente que, por isso, outros não existam. Então novamente, possa haver uma seleção Dawriniana sobre os universos.

Então a ciência poderia dar uma boa explicação sobre ela mesma na educação religiosa. Mas não seria o bastante. Eu acredito que algumas familiaridades com a versão da bíblia do Rei Jaime seja importante para qualquer pessoa que queira entender as alusões que aparecem na literatura inglesa. Junto com o Livro das Orações Comuns, a bíblia possui 58 páginas no Dicionário de Citações de Oxford. Apenas Shakespeare possui mais. Eu penso que sem ter qualquer tipo de educação bíblica seria infelicidade se as crianças quereriam ler literatura inglesa e entender a origem de frases como “through a glass darkly”, “all flesh is a grass”, “the race is not to the swift”, “crying is the wilderness”, “reaping wht whirlwind”, “amid the alien corn”, “Eyeless in Gaza”, “Job’s comforters” and “the widows mite”. (*expressões literários optados por não ser traduzidos).

Quero retornar agora para a acusação de que a ciência é apenas uma fé. A versão mais extrema dessa acusação – e uma que eu freqüentemente encaro tanto como um cientista e um racionalista – é sobre o fanatismo e a inveja cega dos cientistas ser tão grandes quanto às das pessoas religiosas. Algumas vezes pode haver um pouco de injustiça nesta acusação, mas como fanáticos invejosos, nós cientistas somos amadores neste jogo. Nós ficamos satisfeitos em argumentar com aqueles que discordam de nós. Nós não os matamos.

Mas eu gostaria de negar até mesmo a menor acusação puramente verbal de fanatismo. Há uma grande, e de grande importância, diferença entre acreditar fortemente, até mesmo passionalmente, em alguma coisa pelo fato de termos pensado sobre ela e de ter examinado as evidências de um lado, e acreditar fortemente em alguma coisa porque foi revelada de forma interna para nós, ou internamente revelada a outra pessoa na história e subseqüentemente consagrada por tradição. Há toda uma diferença no mundo entre uma crença em que um está preparado para defendê-la com uma citação de uma evidência e lógica e uma crença que é sustentada por nada mais do que tradição, autoridade ou revelação.