domingo, dezembro 31, 2006

O Anticristo

O número da Besta :


´´Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta;
porque é o número de um homem , e o seu número é
seiscentos e sessenta e seis.´´ Apocalipse 13 :18


A redação final do Apocalipse é estimada ter ocorrido por do ano 95 da Era Cristã e sua autoria atribuída a João que também foi um dos que teria escrito um dos 04 Evangelhos que dão narrativa a vida de Jesus Cristo ( outros são Mateus , Lucas e Marcos ).

Como pano de fundo João vive uma época em que o cristianismo como movimento religioso tem sua ascensão em Roma com o reconhecimento do Imperador Constantino da religião como a oficial dos romanos ( depois reconhecida de culto obrigatório pelo Imperador Domiciano )

Ocorre que a época não é menos violenta e conturbada para os fiéis já que surgem tantos cristãos quantos são as formas deles encararem o cristianismo entre si ao ponto de em torno destas divergências doutrinas surgirem seitas .( temos, por exemplo, os arianistas que consideram ser a natureza de Jesus de base humana e não bem divina )

De toda maneira pelo conjunto da obra , digamos assim, esta pequena citação que destaquei do livro de Apocalipse no capítulo 13 em seu versículo 18 é o que sempre despertou curiosidade. Sim,por que João dá uma pista sobre quem seria este personagem tão lendário como o maligno que seria o responsável pelo o Fim do Mundo : o anticristo ! Dizendo que o número dele é 666.

Por várias datas foi conjeturado como sendo do nascimento do anticristo de modo a reproduzir o cabalístico ´´666´´, a saber 06/06/666, 06/06/1066, 06/06/1666 e por ai vai até chegarmos ao atual fatídico 06/06/2006.

Argumentam no entanto que existiria um lapso de erro no calendário cristão que seria de 05 anos de modo que 06/06/2006 seria 06/06/2001 e indo mais além apelando para numerologia alegam que a data que daria um ´´666´´ no somatório seria na verdade 06/06/2004 ( onde o ano seria convertido em seis pela soma de seus algarismo isolados ) e neste sentido a data enigmática do nascimento da Besta seria mais exatamente ocorrido no dia seis de junho de 1999.

De toda maneira o apogeu do anticristo seria aos 33 anos, imitando assim maleficamente a Cristo, significa dizer que tomando como base 06/06/99 o esperado ´´ Fim do Mundo ´´ seria em 2032. Pegando outras variações ficaríamos com algo que ocorreria mais ou menos na década de 30 do Século XXI ou se muito dez anos antes ou depois disto.

Claro existem zilhões de outras interpretações a respeito do anticristo que ao meu ver não são menos fantasiosas quantos estas versões que já mencionei.


Mas quem é o Anticristo?

A rigor o termo ´´anticristo ´´(do grego αντιχριστός / "opositor à Cristo") está essencialmente contido de maneira expressa em apenas 04 passagens na Bíblia e todas elas são também de autoria de João ( 1 João 2:18 , 2:22 , 4:3 e 2 João 1:7 )

Nos demais casos, ao longo de cerca de 50 profecias distribuidas principalmente no Livro de Daniel , Segunda Carta aos Tessalonicenses ( de autoria de Paulo de Tarso ) o citado Apocalipse, não existe passagem onde o termo ´´anticristo´´ seja usado mas sim um ´adjetivo´ similar tal como a "Besta que domina o mundo" .

Aliás, levanta-se o questionamento que esta ausência do termo ´anticristo´fosse prova de que o Apocalipse não tenha sido escrito realmente por João , porém, fosse ele ou outra pessoa não resta dúvida que Nero foi o ´modelo´ que serviu de base de inspiração para criação do personagem já que a época quando foi escrito o texto ele realizava um ampla perseguição aos cristãos e um governo tirânico sobre Roma.

Agora se Nero inspirou João também prestou para igual fim nos escritos de Paulo que viveu no mesmo período histórico por outro lado em época anterior Nabucodonosor I da Babilônia serviu como uma luva para Daniel e suas visões ´proféticas´de Fim do Mundo.

Posteriormente foi tudo ´descontextualizado´ no sentido de colocar estas passagens bíblicas como sendo uma ´mensagem´para os dias atuais e futuros, fazendo assim o ´Anticristo´o grande personagem por detrás na suposta trama divina de Armagedon e construção do Reino de Deus na Terra.

sábado, dezembro 23, 2006

Os outros Cristos

Pode-se relacionar pelo menos 10 características básicas comuns a todos ''Salvadores'' que já andaram pelo planeta :

1- nasceram no dia 25 de Dezembro ou próximo a ele ;
2- nasceram de mãe virgem ( partogeneticamente );
3- levaram uma vida de sacrifícios pela humanidade;
4- nasceram em grutas, câmaras subterrâneas ou lugares parecidos;
5- receberam o nome como : '' O que Traz a Luz'' , '' O Curador'' , '' O Salvador'' e etc.
6- foram vencidos por seus inimigos;
7- desceram depois de derrotados aos infernos, passando por um processo de expiação e muito sofrimento;
8- ressuscitaram dos mortos depois de não mais de que três dias e tornaram-se paladinos da Humanidade no Mundo Celestial;
9- fundaram em torno deles comunhões de santos e organizaram-se templos nas quais os discípulos eram recebidos pelo batismo;
10- eram comemorados por meio de refeições eucarísticas.

Essas verdadeiras correntes de conexões entre a vida , morte e ressurreição destes personagens tidos como seres ´´especiais´´ perante o resto da Humanidade, o fundo do ´´enredo´´ por onde desenrolaram os acontecimentos se dando em quase a mesma seqüência e com os similares ´´acessórios´´ presente nas narrativas levantam toda sorte de considerações e teorias das mais fantasiosas. Vamos a elas :

Teóricos da Conspiração

Alguns consideram o aparecimento de tais pessoas de tempos em tempos em vários pontos do planeta não seja por acaso, mas sim algo proposital fruto da ação de grupos secretos iniciáticos que escolhem certas pessoas e os treinam desde a tenra idade recebendo ensinamentos esotéricos na intenção de treina-los para andarem entre os povos do mundo como seus ocultos porta-vozes transmitindo aspectos da sua doutrina mística para que tanto se operem transformações ´espirituais´na Humanidade quanto estas organizações assumam o controle do mundo.

Na perspectiva desta ´´teoria conspiratória´´ estes ´escolhidos´ marcam sua passagem aos olhos de todos pela sujeição de idênticas experiências maculadas por muita dor e sofrimento tal como fizeram antigos ´Mestres´ ( ou peões ? ) que lhe antecediam . Tudo a rigor, então, seria uma encenação bem montada e planejada que faria de parte de um plano maquiavélico orquestrado por ordens iniciáticas atrás de poder.
Claro e evidente que é fácil refutar tais alegações estapafúrdias, fazendo mais provável que estas teorias surgiram da cabeça de um outro líder de uma destas organizações iniciáticas para operar uma aura de falsa autoridade e poder ao redor da sociedade secreta para gerar impressão de prestigio seja diante de seus seguidores quanto de gente de fora.
Para se ter uma noção, só para começo de conversa, NENHUMA destas ordens remonta em sua origem histórica a época de qualquer de um destes ´escolhidos´ tenha pretensamente vivido quanto mais alegarem que tenha estado atuando por detrás dos eventos.
A força do sincretismo?
Outros consideram estas ''coincidências'' como resultante de sincretismo entre culturas onde ao final de certo tempo teria sido operado associações comportando várias versões de relato de acordo com o tempo e o lugar de quem conta muito embora guardando relações de similaridade na essência do enredo.
Daí porque, por exemplo, se no Egito Antigo comemorava-se em 27/12 o ''Ressurgimento de Osíris'', na mesmo período os Romanos na época do Império celebravam os '' Saturnais'' e atualmente povos cristãos festejam o Natal no dia 25/12. Na esteira disto as lendas se ´´misturavam´´ fazendo surgir estas ''coincidências''.
Ocorre que se formos desposar esta tese seria forçoso concluir que na origem de tudo estaria uma ´´história real´´ que dá base a todos os mitos , lendas e folclore decorrente que foram depois aglutinados, isto é, ´´peneirando´´ todo este sincretismo é de supor que hipoteticamente haveria um modelo primevo seja de narrativa fictícia ou mesmo um relato real de um personagem notável aos olhos dos demais que há priscas eras teria passado por todo tipo de atribulação e servido de inspiração para futuras gerações .
Não obstante, esta teoria para ser factível é de supor que culturas de povos diferentes tenham em algum momento histórico travado contato e mantido intacto por um período de tempo considerável ao ponto de uma espécie intercambio tenha se operado.
Ocorre que mesmo em culturas isoladas este padrão nos mitos por detrás da histórias dos ´´ Messias´´ ( ou seja qual for o nome dado ) é mantido na essência da trama bem como também uma enorme e curiosa coincidência das datas e a ordem dos acontecimentos !!
Atavismo Biológico
A teoria derradeira define que por detrás destas ''coincidências'' se esconde uma explicação de as similaridades existentes são decorrentes da natureza humana assim considerada como espécie biológica, ou seja, é um cenário criado dentro das possibilidades humanas de inventividade.
Figura realmente complicado de entender, porém, se formos pensar que por mais isolada e distante for um povo no planeta existente similaridades nos costumes. Claro é evidente que existem diferenças por vezes gritantes, só que mesmo assim ainda existem condutas que são universalmente ( ou tendente a universalização ) encarados como tabus, vistos como atitudes criminosas e etc. a despeito de qual cultura no planeta nos referirmos.
Deste modo, estas 10 características básicas comuns a todos ''Salvadores'' no planeta estariam dentro do rol de conceitos e noções universais , ocorre que seguindo este raciocínio figura ainda sem explicação dos MOTIVOS desta linha de enredo e não outra ter sido seguida.
Inconsciente Coletivo
Se de um lado o atavismo biológico explica como se operaram estas ''coincidências'' do outro a noção de Inconsciente Coletivo pode abrir uma perspectiva inusitada a respeito dos ´´ porquês´´ desta linha de enredo ter sido escolhido preferencialmente.
No caso por detrás destas 10 características básicas comuns a todos ''Salvadores'' no planeta haveria um vasto universo simbólico arquétipico que ocultaria para Humanidade seja uma verdade ou mesmo uma realidade muito inamistosa para ser encarada à luz da conciência.

Neste sentido, coletivamente invocamos a este mito recorrente do ´´ Messias´´ e o transmitimos de geração para geração para afastar algum ´´ fantasma´´ que grita lá bem dentro de nossa mente desde tempos imemoriais.
O que seria de tão grave assim ? Deixo esta questão em aberto para você quem lê chegue as suas próprias conclusões.

domingo, dezembro 17, 2006

Sobre crenças e culto religioso

Poucas sociedades primitivas eram de fato verdadeiramente politeístas no sentido de cultuarem várias divindades ao mesmo tempo, no lugar há exemplos inúmeros de povos que apesar de acreditarem na existência de outros deuses concentram a adoração por um deus de cada vez ou ainda predicam uma atenção quase exclusivista por só uma divindade entre várias. A isto chamam de henoteísmo ou´´monolatria´´, onde como excelente exemplo figuram os celtas em sua religião que devotavam uma primazia de reverencia ao Deus Lugh entre os vários deuses e deusas do panteão céltico.

Por sua vez, os egípcios no passado é que em seus cultos religiosos chegaram o mais próximo da situação ideal de professarem uma crença politeísta pura, já que igual destaque era dado a todas as divindades. Neste sentido, vale aqui destacar que o politeísmo egípcio foi resultado da incorporação do culto de várias divindades cultuadas pelas diversas tribos assentadas ao longo do Rio Nilo, significa dizer de outra forma que havia por detrás da devoção oficializada pelos Faraós uma tentativa destes firmarem sua autoridade bem como de inculcarem uma mensagem de inequívoco sentido político em prol da construção de uma identidade nacional que subjugasse de vez as afinidades de cada um do povo com sua tribo em detrimento da lealdade com o Império Egípcio.

Nesta perspectiva, encaro o politeísmo como resultado em grande parte das conquistas de uma tribo sobre a outra, isto é, cada vez que uma tribo era vencida tinha a propensão de incorporar as divindades de seus conquistadores e ao mesmo tempo estes também adotavam em seus cultos os deuses dos vencidos.

Agora este processo de ´´sincretismo´´ se dava em razão principalmente da convicção de que os deuses dos vencedores tendo poder o suficiente para dar a eles a vitória não deveriam ser contrariados e ao mesmo tempo não figurava também como medida sensata deixar de lado os deuses antes cultuados já que mesmo ´´fracos´´ eram indubitavelmente mais poderosos que qualquer reles mortal.

Do mesmo modo pelo lado dos vencedores havia o temor dos deuses locais partirem para vingança tanto quanto viam estas divindades como melhores conhecedores das riquezas ocultas daquela terra conquistada do que os seus próprios que como eles eram ´´estrangeiros´´ no local.

Superstições à parte o fato é que esse ´´politeísmo pragmático´´ acabava contribuindo a longo prazo para arrefecer as rivalidades e criar um clima de paz e concórdia que dificilmente seria possível caso no lugar fosse simplesmente ignorado as crenças do povo conquistado ou pior exigido que estes aceitassem o culto religioso trazido por uma outra tribo que vinha ali para conquista-los.

Aliás, mesmo a prática do henoteísmo pode ser explicado no contexto de resquício persistente da cultura local que sobreviveu apesar dos contatos com outros Povos em suas crenças e cultos, ou seja, consideravam os demais deuses ´´estrangeiros´´ só que permaneciam dando primazia as divindades locais que a rigor contribuíam para construção e manutenção de sua identidade cultural como tribo.

Por sua vez, o monoteísmo cresce em direta razão da expansão demográfica de uma dada população que faz o culto de seu deus tribal atingir proporções tais que termina ganhando primazia no meio social, isto é, um povo na origem henoteísta ganha poder sobre os demais e rompe os laços de convivência com as divindades que estes dedicam atenção. A partir daí é exigido o culto a um deus único, ignorando por completo a existência de outros deuses e mesmo em extremo gerando obstáculos para celebra-los ritualisticamente.

Entre pressupostos necessários para uma cultura atingir o monoteísmo, nas condições que narramos, vemos que é algo mais propenso de ocorrer em sociedades sedentárias do que nômades bem como surge a reboque da superação da noção de tribo em favor da construção da idéia de nação tanto quanto surge em comunidades humanas mais homogêneas na sua constituição cultural do que em meio social onde privilegie a diversidade.

Obviamente que não se faz surgir como regra, como resultado da transição do nomadismo para o sedentarismo, da tribo para nação e da diversidade para unidade, de que todas as sociedades abandonem o politeísmo ou mesmo henoteísmo em favor do monoteísmo tal como fosse este um estágio imperativo e necessário na evolução da História Humana. Exemplos há onde até hoje o politeísmo ou henoteísmo persistem intactos como forma de credo e culto, tal como na Índia com o hinduismo ou o Japão com o xintoísmo.

sábado, dezembro 09, 2006

No caminho do Êxodo.

Observem que o texto primitivo constante no corpo do documento do que hoje é a Bíblia havia apenas uma indicação geral por onde os israelitas tomaram o caminho depois de saídos do cativeiro no Egito , falando que foram para o leste ou o sudeste, dizendo que eles partiram de Ramsés para Sucot, daí seguiram a Etam de onde foram até Pi-Hahirot que fica entre Migdol e o ´´mar´´ ( Ex 14, 2 ) para montarem acampamento, partindo dali para atravessar o ´´mar´´ e acampando em Mara no Deserto de Etam pela segunda vez donde se dirigiram para o deserto .

Vejam que a maioria dos capítulos e versículos que tratam do assunto falam só de ´´mar´´ sem ter cuidado de designa-lo, daí só em Ex 15,4 que é dito ´´ Arremessou ao mar os carros de Faraó e o seu exército, afundou os melhores dos seus combatentes no mar dos Juncos´´ ( Bíblia - Edições Loyola /1989 ) que em outras versões é chamado pelo nome egípcio de ´´mar de Suf´´ e não do seu derivado hebraico yam sûf. ( observando que este ´´mar´´ é hoje atravessado pelo canal de Suez ).

Arrematando ainda o texto bíblico que ´´ As águas voltaram e cobriram os carros e cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; e não escapou um só deles.´´ (Ex 14,28), voltando assim a falar de mar . Alguns entendem que por isso esta observação a respeito do mar dos Juncos é fruto de ´´acréscimo´´ ao texto feito por tradutores em gerações posteriores.

Posteriormente os geógrafos consideraram o mar dos Juncos como parte integrante do mar Vermelho apesar de na antiguidade serem tidas realidades distintas bem eqüidistantes no espaço ( como de fato são ), seguindo alguns tradutores a mesma orientação e passando a traduzir o local da travessia como sendo não o mar dos Juncos e sim mar Vermelho. Havendo especialistas que julgam o inverso, isto é, as mudanças havidas na designação geográfica do mar dos Juncos como parte inseparável do Mar Vermelho foram inspiradas por falhas traduções.

Sendo o mar de Juncos vemos que os israelitas teriam atravessado uma região bem pantanosa e de lagunas , sendo seguidos em seu encalço bem de perto pelas tropas egípcias que eram comandadas pelo próprio Faraó, significa dizer que não haveria grande problemas deles passarem ´´por cima´´ mesmo que às custas de ficarem bem sujos de lama, mordidos por mosquitos, vitimado por ação de sanguessugas e com alguns mortos por crocodilos.

Agora para os egípcios a estória seria outra , isto é, bem pesados por conta de carregarem espadas e lanças, vestirem armaduras, portarem escudos e etc é bem provável que em muitos casos o chão do leito do mar dos Juncos cedesse parcialmente ou totalmente se consideramos o peso somado das bigas, cavalos, camelos e outros animais de carga que acompanhava as tropas. ( como o chão já ´´afofado´´ pela passagem dos israelitas )

A despeito do lugar de onde ocorreu o evento, o fato é que também a própria Bíblia entra em contradição mais adiante em Números no Capitulo 33 em seus versículos 01 até 49 ao descrever todo evento sem mencionar ´´travessia´´ alguma seja do mar dos Juncos ou mar Vermelho !!

Observando que nenhuma outra fonte de origem não-judaica , não-cristã ou não-muçulmana dá conta deste evento ou mesmo dá notícia que o faraó Ramsés II tivesse morrido ´´afogado´´ conforme alega a Bíblia. Entre as possibilidades que são indicadas por historiadores dá conta de que o êxodo se deu de maneira bem lenta e maneira menos ´´apoteótica´´, seja mesmo uma parcela dos hebreus foi libertada do cativeiro por ordens do Faraó por razões que se desconhece ou bem tudo se trata de uma obra de ficção.

sábado, dezembro 02, 2006

O Alcorão e a Sociedade

O Alcorão é conceitualmente onibrangente em sua influência no meio social na medida que não faz distinção entre a esfera religiosa e a vida particular do fiel de modo a abarcar todas as facetas da atividade humana.

Nesta perspectiva o islamismo inclui mandamentos não só de ordem religiosa mas também disposições normativas típicas de constarem em um código de direito civil ou penal, ai incluindo até questões de natureza processual.Vemos isto, por exemplo, quando o mandamento corânico declara direito a herança a mulher, divórcio, exige três pessoas para fazer testemunho de um acontecimento e assim por diante.

O Alcorão de fato pode ocupar o lugar de uma Carta Magna em um país sem maiores problemas ou figurar como fonte maior de direito no ordenamento jurídico em caso de lacuna ou ambigüidade da lei. Aliás, foi este o papel que o Islã ocupou historicamente na formação originária de várias nações árabes, dando subsídio ao que era antes grupos errantes de tribos sempre em guerra pudessem reunir sob a égide da autoridade de um governo nacional que vinha para pacificar as disputas e trazer ordem socialmente.

Não cogite, porém, seja o Islã refratário a Lei Secular e o a formação de um Estado Laico, dando margem apenas ao surgimento de Governos Teocráticos que transformam a Fé e o Credo Religioso em assunto de estado. Pelo contrário o contexto é que venha o Alcorão enumerar princípios gerais abstratos orientadores no sentido do legislador editar leis justas, o governo não ser tirânico e o magistrado julgar com equidade.

Não por menos no preceituário corânico surge como premissa na sua aplicação o reconhecimento dos costumes praticados coletivamente tanto quanto busca formular consenso na comunidade, o que traduz em termos práticos entre outras coisas não ser admitido a conversão forçada ao Islã e nem a perseguição ou qualquer atitude intolerante que seja com pessoas de outras crenças religiosas e posições filosóficas. Nada mais contrário, então, a formação de um governo que seja lastreado na segregação religiosa e fanatismo como pode se esperar como conduta típica em uma teocracia.

Sem dúvida neste exato momento o leitor deve estar questionando que a imagem passada pela mídea a respeito do Alcorão e muçulmanos em geral é bem diferente, associando os mesmos a atividades terroristas imersas no fanatismo religioso, ignorância e assim por diante. Com certeza posso afirmar que nada é mais distante da realidade do que isto, só que entre a verdade e a versão pervertida tem sido vitoriosa esta última.